Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Teatro S. João

Ontem, numa iniciativa do Vivacidade  fui visitar o Teatro S. João.

A imagem foi retirada daqui
A visita, muito interessante, foi orientada por duas jovens muito atenciosas, a Débora e a Vera.

Começámos por ouvir uma breve resenha da história do teatro S. João. O essencial do que nos foi dito pode ser encontrado aqui  site onde sequencialmente vão sendo passadas imagens do interior do edifício

A breve resenha histórica foi acompanhada de outras informações e ainda com alguns dados burlescos

Comecemos por estes últimos.

Os camarotes encostados ao palco, hoje não são vendidos. Um deles, que tem fácil acesso ao palco, é destinado aos bombeiros; os outros são eventualmente ocupados por técnicos de som e luz ou outros. Dali apenas se pode ver metade do palco pelo que não servem para assistir a qualquer espectáculo. Mas, curiosamente, foram dos camarotes mas disputados quando as pessoas iam ao teatro não para verem , mas para serem vistas

Também, em tempos que já lá vão, as pessoas levavam uma “merenda “ para comer e,  muitas vezes, os restos serviam de peças arremesso durante os espectáculos, em que, à semelhança do que hoje ocorre com as claques do futebol, se “confontavam” os que apreciavam e aplaudiam a peça com os que não gostavam e por isso vaiavam, pateavam, etc
Consta que, um desse confrontos, teria sido arremessado, para a plateia, um osso de uma perna de carneiro

Quanto às informações, houve um esclarecimento quanto às diversas funções necessárias ao funcionamento de uma peça (actores, encenadores, cenógrafos, figurinistas, sonoplastas, técnicos de luz) sendo realçado o papel fundamental do director de cena, que tem que assegurar que tudo (luz, som , actores, adereços, etc), entre em cena no momento exacto

Após esta introdução começou a visita propriamente dita,  aos bastidores, ao fosso de orquestra e finalmente à sala que, possivelmente, já todos conhecem onde, nos meus tempos de universitária,  vi algumas fitas de cinema

Foi feita uma referência à sua forma em ferradura e a relação que essa forma tem com a acústica .
Para quem se interesse por este aspecto, que mostra a relevância da Física em mais esta área, aconselho este site
À noite fui ver a peça 1974, em exibição no Teatro, e levada a cabo pelo Teatro Meridional
Na peça  "avista-se Portugal do alto de um promontório, o ano de 1974, ponto a partir do qual é possível, entre continuidades e rupturas, esboçar um antes e um depois na nossa história contemporânea. O Estado Novo, o 25 de Abril, a integração europeia e a “normalidade democrática” – matéria exposta para indagar, de uma forma mais evocativa do que ilustrativa, essa abstracção que leva o nome de “identidade portuguesa”. E como vem sendo habitual no trabalho deste colectivo (recordemos Para Além do Tejo e Por Detrás dos Montes), essa indagação faz-se por via de uma contida e expressiva rede de gestos e músicas, que quase prescinde da palavra para comunicar. Onze actores contam então com o corpo o tempo e o modo deste país eternamente adiado, levantando pequenas fábulas sobre a “efemeridade da utopia”, para pegarmos nas palavras do encenador Miguel Seabra, esse superlativo orquestrador de sentidos. Com 1974, retomamos contacto com o Meridional num momento particularmente feliz do seu percurso: foi distinguido em 2010 com o XII Prémio Europa Novas Realidades Teatrais, atribuído pela União dos Teatros da Europa."

Gostei bastante da peça onde se evidencia o papel importantíssimo do director de cena .

A propósito de teatro insiro com uma pintura de Antoni Clavé, que fez muitos trabalhos no domínio da cenografia ,  e um poema de Gastão Cruz


O Teatro das Cidades


Qualquer tempo é um tempo duvidoso


assim o meu cercado de cidades


plataformas instáveis


praticáveis cobertos de infinita gente náufraga


que se inclina nas águas como um palco






Paro na convergência dos estrados


chove já sobre a raça ameaçada


Incertas multidões em volta passam


contemporâneas falam interpretam


a duvidosa língua das imagens


Assim no teatro abstracto das cidades


morrem palavras sobre um palco náufrago


O tempo cobre o céu que se enche de água


Gastão Cruz, in "O Pianista"



Termino com o Chico Buarque e Vida e morte severina João Cabral de Melo Neto

4 comentários:

  1. Interessante. Lembro-me de lugares no Coliseu de Lisboa- geral reservada ( a quem, pergunto-me), onde não se via metade do palco. Nunca mais me esqueço dum ballet do Marquez de Cuevas, em que nos venderam desses lugares e a minha Mãe ficou tão fula que exclamou :" Marquês de cuecas, ora bolas!". Desculpa a vulgaridade deste comentário, mas a história ainda hoje me faz rir.
    Não conheço nenhum teatro por dentro, até certo ponto gosto do mistério, não saber o que está atrás, como se processam as coisas, o nervosismo, o que corre mal, etc.
    mas certamente valeu a pena a visita.

    Quanto ao resto, o nível poético mantém-se alto e a descrição da visita também. Obrigada.

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  2. Lembrei-me de ti durante a visita e durante a peça. Acho que terias gostado.
    Bjs
    Regina

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  3. Eu também gostaria de ter ido mas foi-me impossível. No entanto a sua descrição deixou-me um certo desgosto por não ter ido. Como sempre gostei imenso de ler o seu post incluindo a parte que se refere à acústica

    Um beijo.

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  4. Não gosto muito de visitas guiadas, não sei porquê. Faz-me lembrar os tempos do liceu em que éramos obrigadas a ir ver tudo e tínhamos de nos portar bem :))
    Gosto de ver as coisas depois de ler sobre elas e estar o tempo que me apetece a contemplar ou a observar sozinha aquilo que me interessa.
    Nunca me esqueço da visita ao Coliseu na Tunísia, ao fim da tarde, com o sol a despedir-se daquelas pedras milenárias e do barulho que um casal fez para tirar uma foto em conjunto com amigos no local. O meu ex- e eu ficámos petrificados e afastámo-nos, balbuciando aquela frase que não é bonita , mas adequada: "Pérolas a.....". Em geral grupos de pessoas ( latinas) a visitarem locais estragam-me a beleza desse local por mais bonito que ele seja. Sou radical, desculpa!

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