Este é o título de uma canção da Ilha Terceira, que podemos ouvir numa versão de
Fernando Lopes Graça
No passado dia 3 fui à
terra do bravo e regressei ontem dia 7. Fui a convite da BPARAH (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo). O convite para fazer algumas sessões com crianças na secção infanto-juvenil da referida Biblioteca, foi-me dirigido pelo Dr. Marcolino Candeias, Director da mesma.
As sessões decorreram no Centro Cultural e de Congressos
Biblioteca
Centro de Congressos (edifício moderno em cima)
A propósito de poesia, centrada essencialmente no meu livro “ciência para meninos em poemas pequeninos” mas não só, foram abordados alguns conceitos científicos, tendo em conta o nível etários dos participantes. Nessa abordagem fizeram-se várias experiências muito simples desde a obtenção dum arco íris à construção de um ludião, passando por várias outras.
As crianças de uma maneira geral reagem muito bem a esta abordagem da ciência e da poesia.
Espero em breve poder colocar imagens das sessões com as crianças, imagens essas que ficaram de me enviar
Já tinha estado uma vez na Ilha Terceira, creio que há nove anos. Fui com toda a família (ainda não tinha netos nessa altura) visitar três ilhas dos Açores: Terceira, S. Miguel e Faial .Gostei imenso de todas elas por razões diferentes. No caso da Terceira, fiquei fascinada com a cidade de Angra. Mas agora, com tempo para a “saborear” sozinha, dei comigo a pensar que não me importaria nada de ali viver. É uma cidade onde apetece estar, não só pelo património inestimável que vai da beleza natural a uma arquitectura ímpar, que a levaram a Património da Humanidade já em 1983, mas também pela simpatia das sua gentes, pela segurança que ali se sente, pela história que ali se respira..
Situada numa pequena e belíssima baía, que está na origem do seu nome, Angra tem muito para contar. Foi elevada a cidade em 1534, a primeira cidade do Arquipélago dos Açores.. O topónimo “Heroísmo” deriva das lutas liberais do século XIX, onde Angra do Heroísmo pautou pela defesa dos ideais de liberdade tal como se tinha oposto com heroísmo ao domínio Castelhano na era dos Filipes. Por seu lado, o actual nome da ilha, que inicialmente era Ilha de Jesus Cristo, parece estar relacionado com o facto de ter sido a "terceira" das ilhas do arquipélago a ser descoberta.
Da janela do meu quarto no hotel que me reservaram, mesmo em frente ao mar, desfrutei estas vistas fantásticas para além de adormecer ouvindo as ondas a ir e voltar.
Não resisto a colocar aqui um poema do meu primeiro livro
Poesia
Gosto do narciso poeta aquela flor cuja corola,
por dentro amarela, é branca por fora.
Colhi duas.
Uma decidi comê-la cuidando assim
engravidar de poesia
Mas a poesia, tão arredia, riu-se de mim.
Cheia de mágoa, à beira da água
lancei ao mar a outra flor, daquelas duas.
E fiquei a olhar, a flor boiar
na onda que vai e que logo vem,
que se reflecte e se refracta,
que interfere e se difracta.
A luz do sol bateu no mar, fê-lo de prata,
reflexão também.
Por entre os meus dedos, a areia fluía suavemente.
A flor boiava dolentemente
e a onda, sempre a ir e voltar,
e o som do mar com seus segredos
e o gosto a sal a pairar no ar
deixando um cheiro a maresia.
Então, por magia, luz , céu e ar,onda do mar, no ir e voltar,
areia, sal , flor a boiar,tudo em redor foi poesia
(in Reflexões e Interferências)
Referi acima que a gentileza e o carinho com que fui tratada. Desde as várias pessoas com quem contactei no Centro Cultural e de Congressos e na Biblioteca (Dr. Marcolino Candeias, Dr.ª Helena Martins, Dr.ª Graça Cardoso, estagiário André, D. Lurdes),ao pessoal do hotel, passando por pessoas a quem pedia uma informação na rua, o trato foi de tal modo afável que esta ida a Angra me tocou profundamente.
Numa das noites jantei em casa do Dr. Marcolino Candeias onde tive ocasião de conhecer a esposa e filha. Nunca poderei esquecer o carinho com que fui tratada por aquela família de poetas. Já sabia que ia estar na presença de um poeta (foi precisamente através da poesia que eu vim a conhecer o Dr. Marcolino); quanto à esposa fiquei a saber, no referido jantar que também o é.
Talvez há uns dez anos, quando preparava uma sessão sobre Física e Poesia, fiz uma pesquisa sobre poemas nessa interface. Já conhecia, entre outros, António Gedeão e Vitorino Nemésio (natural da Ilha Terceira). Mas vim a conhecer alguns mais, nomeadamente os brasileiros Carlos Vogt, Marco Lucchesi, Millôr Fernandes e o terceirense Marcolino Candeias cujo poema “
Mensagem“ me fascinou
Mensagem
Desculpa esta emissão de amor a seis horas de diferença TMG
Desculpa que seja telegráfico
Porém teu coração estará captando
em toda a plenitude de teu ser
este código de saudade que sinto mas não decifro
Primeiro uma suave onda curta
depois uma longa onda média
Seguidamente a onda te envolverá tornando-se infinita
e as fibras do teu coração subitamente ficarão ao rubro
Então as teorias relativistas cairão por terra
porque em nosso amor não existe espaço e tempo
(in "Na Distância deste Tempo")
Na NET procurei informações sobre o autor.Soube que nascera na Ilha Terceira, que se revelara como poeta aos dezassete anos, que fora professor nas Universidades de Coimbra e na dos Açores e que desde 1986 exercia o Leitorado de Português na Universidade de Montreal, onde também leccionava Cultura Portuguesa e Brasileira).
Eram estes os dados que eu tinha até 2008, ano em que fui convidada pela Dra. Cristina Carvalhinho, para participar nos “15ºs Encontros Filosóficos. Educação para o século XX”, que tiveram lugar na Cidade da Horta, no Faial. Convidado também para os mesmo encontros, estava presente o Dr. Laborinho Lúcio, que tive o privilégio de então conhecer pessoalmente. Uma pessoa extraordinariamente culta e afável. Em conversa falei no poeta Marcolino Candeias. Disse-me ser seu amigo, contactou-o e assim, a partir daí, passei a comunicar via e-mail com o Director da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo.
Soube então que regressara aos Açores em 1998, onde foi ocupando vários lugares de destaque nomeadamente o que hoje ocupa.
Ofereceu-me o seu livro "Na Distância deste Tempo" com poemas belíssimos de entre os quais destaco o que segue.
Tive curiosidade em entrar no café Aliança mas segundo o autor, já pouco tem a ver com o referido no poema.
E para além do café Aliança, visitei a Sé e muitas outras igrejas, o Jardim e o Pico da Memória, o Museu no Convento de S. Francisco, as duas fortalezas, o teatro Angrense onde fui assistir a um concerto com várias filarmónicas, o Mercado, o Centro de Ciência (mesmo à beira do meu hotel), o Palácio dos Capitães Generais e tantos outros locais de interesse que poderia enumerar
Propositadamente deixei para o fim a referência aos Impérios. Fotografei vários em Angra e um em S. Mateus, aldeia piscatória, onde muito gentilmente a Drª Helena me levou. Mas sobre os Impérios prometo falar noutra mensagem.
Uma imagem de S. Mateus