quinta-feira, 24 de junho de 2010
Mais uma noite de S. João....
O meu pai adorava o S. João do Porto. Lembro-me, era eu criança, de ele vir por vezes lá da aldeia perdida no Trás- os –Montes longínquo (na altura a viagem, por estradas sinuosas durava umas horas largas) festejar o S. João.
Nesse aspecto não me pareço com ele. Tal como a minha mãe, perante multidões sinto uma espécie de “antropofobia”. Mas festejo o S. João. Para mim é como se fosse mais uma festa de família. Reúno a família, uns quantos amigos e, no meu quintal, cheio de enfeites, faz-se uma sardinhada ( que sempre se transforma numa lauta refeição repleta de iguarias trazidas por uns e outros ). Lançam-se balões aplaude-se sempre que algum cruza os céus (este ano, bem menos) e, por vezes, vai-se dar uma pequena volta para ver a animação da cidade.
Nos últimos anos, a existência de crianças levou a incluir sempre um cascata (as peças eram já de uma das minhas noras). Este ano a cascata teve uma novidade. Coloquei numa peça antiga que “habita o quintal” e cuja função desconheço, um catavento. Era o nosso moinho. Digo nosso porque na construção da cascata os netos desempenham papel importante, como é óbvio
Balão
O balão de S. João subiu,
subiu pelo ar.
Ia contente o balão,
ia subindo a brilhar.
Ia ter com uma estrelinha
para com ela brincar.
Mas apagou-se o balão,
já não se via mais, não.
Foi caindo, foi caindo,
ficou desfeito no chão.
( in Ciência para meninos em poemas pequeninos)
Curiosamente, durante todo o dia me aflorou ao ouvido o fado tropical (Chico Buarque).
Não sei se por falar nas sardinhas ou se por ter conhecido nessa mesma manhã, na aula de yoga, uma colega brasileira com quem mantive uma conversa muito interessante
(…) Com avencas na catinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
(…)Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Desagua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Este poema do Chico, em que Portugal e o Brasil se interpenetram, transporta-me sempre para um poema meu. E é com esse poema que termino.
Imaginário
O meu imaginário lembra, em imagens, um caleidoscópio,
sem o sonho, seria como um baroscópio,
a que faltou o ar para o empurrar.
No meu imaginário cruzam-se dois mundos
ligados por laços, em geral, profundos
No meu imaginário há onças pintadas,
mouras encantadas, há o bem-te-vi, há o colibri,
há a andorinha, e a joaninha, que voa, que voa,
vai para Lisboa, há o bicho tatu, a surucucu,
há o gato e o cão, a assombração, o bicho papão.
Há jaboticabas, caquis e goiabas,
há nozes, amêndoas, pitangas e mangas
há cerejas, castanhas e jacas, tamanhas.
Há cocos, coqueiros bolotas, sobreiros.
Há cheiro a jasmim, há o alecrim,
há o sabiá, há o jacaré.
Há frio e há fumo que sai da chaminé
Há montes e há sol, há neve e há mar, histórias ao luar.
Há o Zé do Telhado, há o Lampião
o lobo, a raposa, a cobra pitão
há o mocho, há o cuco, a perdiz, o tucano
há o vira, o malhão, samba todo o ano.
Há todas as gentes e todas as cores,
múltiplos cheiros, múltiplos sabores.
Há bacalhau no Natal e no fim do ano,
há arroz doce, folar, e há couve mineira
há feijoada, bem à brasileira,
há pão- de - ló, leite creme, rolete de cana,
há pé de moleque e cocada baiana.
Há bonecas de trapos e de porcelana.
Há navegantes e há bandeirantes,
há escravos, há reis e há imperadores,
há grandes senhores, há marqueses, vilões,
condes e barões, burguesia, nobreza e muita pobreza.
Há muito opressão, muita exploração.
Há jugo e há canga, grito do Ipiranga.
Há guerras com Espanha, e a Restauração
Há muita façanha e muito visionário.
No meu imaginário, que une dois mundos,
há laços profundos, de muita beleza.
Há canto de canário, sabor a medronho, há quimera e sonho,
cheiro a maresia, alguma tristeza, e muita nostalgia, cor azul turquesa.
Bom dia de S. João
Nesse aspecto não me pareço com ele. Tal como a minha mãe, perante multidões sinto uma espécie de “antropofobia”. Mas festejo o S. João. Para mim é como se fosse mais uma festa de família. Reúno a família, uns quantos amigos e, no meu quintal, cheio de enfeites, faz-se uma sardinhada ( que sempre se transforma numa lauta refeição repleta de iguarias trazidas por uns e outros ). Lançam-se balões aplaude-se sempre que algum cruza os céus (este ano, bem menos) e, por vezes, vai-se dar uma pequena volta para ver a animação da cidade.
Nos últimos anos, a existência de crianças levou a incluir sempre um cascata (as peças eram já de uma das minhas noras). Este ano a cascata teve uma novidade. Coloquei numa peça antiga que “habita o quintal” e cuja função desconheço, um catavento. Era o nosso moinho. Digo nosso porque na construção da cascata os netos desempenham papel importante, como é óbvio
Balão
O balão de S. João subiu,
subiu pelo ar.
Ia contente o balão,
ia subindo a brilhar.
Ia ter com uma estrelinha
para com ela brincar.
Mas apagou-se o balão,
já não se via mais, não.
Foi caindo, foi caindo,
ficou desfeito no chão.
( in Ciência para meninos em poemas pequeninos)
Curiosamente, durante todo o dia me aflorou ao ouvido o fado tropical (Chico Buarque).
Não sei se por falar nas sardinhas ou se por ter conhecido nessa mesma manhã, na aula de yoga, uma colega brasileira com quem mantive uma conversa muito interessante
(…) Com avencas na catinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
(…)Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Desagua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Este poema do Chico, em que Portugal e o Brasil se interpenetram, transporta-me sempre para um poema meu. E é com esse poema que termino.
Imaginário
O meu imaginário lembra, em imagens, um caleidoscópio,
sem o sonho, seria como um baroscópio,
a que faltou o ar para o empurrar.
No meu imaginário cruzam-se dois mundos
ligados por laços, em geral, profundos
No meu imaginário há onças pintadas,
mouras encantadas, há o bem-te-vi, há o colibri,
há a andorinha, e a joaninha, que voa, que voa,
vai para Lisboa, há o bicho tatu, a surucucu,
há o gato e o cão, a assombração, o bicho papão.
Há jaboticabas, caquis e goiabas,
há nozes, amêndoas, pitangas e mangas
há cerejas, castanhas e jacas, tamanhas.
Há cocos, coqueiros bolotas, sobreiros.
Há cheiro a jasmim, há o alecrim,
há o sabiá, há o jacaré.
Há frio e há fumo que sai da chaminé
Há montes e há sol, há neve e há mar, histórias ao luar.
Há o Zé do Telhado, há o Lampião
o lobo, a raposa, a cobra pitão
há o mocho, há o cuco, a perdiz, o tucano
há o vira, o malhão, samba todo o ano.
Há todas as gentes e todas as cores,
múltiplos cheiros, múltiplos sabores.
Há bacalhau no Natal e no fim do ano,
há arroz doce, folar, e há couve mineira
há feijoada, bem à brasileira,
há pão- de - ló, leite creme, rolete de cana,
há pé de moleque e cocada baiana.
Há bonecas de trapos e de porcelana.
Há navegantes e há bandeirantes,
há escravos, há reis e há imperadores,
há grandes senhores, há marqueses, vilões,
condes e barões, burguesia, nobreza e muita pobreza.
Há muito opressão, muita exploração.
Há jugo e há canga, grito do Ipiranga.
Há guerras com Espanha, e a Restauração
Há muita façanha e muito visionário.
No meu imaginário, que une dois mundos,
há laços profundos, de muita beleza.
Há canto de canário, sabor a medronho, há quimera e sonho,
cheiro a maresia, alguma tristeza, e muita nostalgia, cor azul turquesa.
Bom dia de S. João
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Também fiz cá em casa uma pequena festa de S. João com a minha família. Foi uma noite boa.
ResponderEliminarDe facto o seu lindo poema tem grande analogia com o Fado Tropical.
E lá foi mais um S. João.
Como o tempo passa depressa!!!!!
Um beijo.
Nunca festejei o S. João como deve ser, porque a minha sogra , que era avessa a sair à noite, pelo menos desde que perdeu o marido, fazia anos na véspera - dia 23 - o que obrigava a todo um ceremonial, jantar ou lanche com a família. Dava muita importancia a esse dia e queria que estivéssemos todos presentes com os meninos, etc. Mais tarde consegui fugir umas vezes ao ritual e ir com os meus filhos até à Rotunda andar de carrocel ou jogar matraquilhos o que eles adoravam. Comíamos farturas e algodão doce.
ResponderEliminarQuando já jovens, eles saíam com amigos e eu ficava em casa, sempre um pouco tristonha, pois sendo de Lx não sentia o S. João como os de lá.
É uma festa verdadeiramente democrática, sem dúvida e as pessoas divertem-se só a bater com os martelinhos na cabeça uns dos outros, a ver os balões - tantos que se viam da minha antiga casa no 9º andar da Ramada Alta! - e pouco mais. Nunca vi o fogo de artifício a não ser dessa casa, donde se desfrutava uma vista linda.
Não sou muito de festas populares, mas adoro farturas!