Bem-vindo, bienvenido, bienvenu, benvenuto, welcome....


Silêncio cósmico

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,

ao cosmos de onde vim.

No espaço interestelar, vazio, negro, frio,

havia de soltar um grito bem profundo

e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Regina Gouveia

NOVO BLOGUE

Retomei o blogue que já não usava há anos.

https://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/

Dedico-o essencialmente aos mais novos mas todos serão bem vindos, muito em particular pais, avós, encarregados de educação, educadores ...


domingo, 27 de dezembro de 2009

Memórias de Bafatá...

Na mensagem meninos Guineenses, incluí um texto (Memórias de Bafatá) e , por lapso, não referi que já foi editado no blog http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/  . Hoje incluo um poema do meu livro Reflexões e Interferências (edição de 2002) poema esse que também já foi editado no referido blogue.
Em ambos os textos as fotos são de Fernando Gouveia.
Aproveito para anunciar que no espaço Vivacidade-Espaço Criativo (ver Blogue)  irá estar partente, a apartir de 4 de Janeiro, uma reportagem fotográfica sua intitulada   "Memórias paralelas da Guerra Colonial (1968-1970)"

E agora o poema...

Telejornal


Vejo o Telejornal no canal dois

A apresentadora fala da BSE, de clonagem, do Kosovo e, logo depois,

de um acidente no Cais do Sodré e da instabilidade na Guiné.

E eu empreendo no tempo uma viagem...

O Braima, a Binta, o Adrião, onde andarão neste momento?

Conheci-os em Bafatá, há muito tempo, iam buscar o "cume" no fim da refeição.

Recordo os seus olhos vivos de crianças pele negra, dentes alvos, sem igual

os passos apressados quando o vento anunciava em breve um temporal

Eu era aluna e eles mestres do crioulo de que mal guardo lembranças.


(fotografia de Fernando Gouveia)



Das mulheres, recordo as suas vestes fossem mulheres grandes ou "bajudas"

no tronco, eram em geral desnudas, presos na cinta panos coloridos

que, de compridos,  chegavam quase ao chão.

Algumas eram de tal modo belas que pareciam extraídas de telas

Recordo, servindo-me o café, o Infali com aquele seu olhar tão doce e triste

talvez o ar mais triste que eu já vi.   Será que o café ainda existe?

Recordo aquele condutor, o Mamadu  mostrando com orgulho o seu menino

Que terá feito deles o destino?

Recordo os passeios na estrada do Gabu os mangueiros, os troncos de poilão,

a mesquita, o mercado, a sensação  de paz que tudo irradiava,

apesar do obus de Piche que atroava,  apesar da maldição da guerra

cujo espectro por cima pairava.

Recordo ainda o cheiro e a cor da terra, o Colufe e o Geba sinuosos

onde canoas esguias deslizavam, recordo macaquitos numerosos

que entre os ramos das árvores saltavam enquanto que lagartos, preguiçosos,

ao sol, pelos caminhos se espraiavam e uma miríade de insectos buliçosos

ao nosso redor sempre volteavam.

Recordo o batuque daquele casamento. Na foto ficou bem impresso o momento

em que o dançarino fazia um mortal numa fantástica expressão corporal

Foi lá na Ponte Nova, naquela tabanca onde de azul se coloriam panos

que as mulheres usavam em volta da anca e que desciam quase até ao chão.

Tudo isto se passou há muitos anos.

A apresentadora fala agora em danos causados por uma longa estiagem

e mostra uma desértica paisagem.

Eu regresso da minha viagem e tento organizar o pensamento.

O telejornal está quase no final. Deve seguir-se a previsão do tempo.

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